Dissonância Cognitiva vs. Analfabetismo Funcional: Entender para Não Confundir

Dissonância Cognitiva vs. Analfabetismo Funcional: Confundir Não é Entender

À primeira vista, os termos “dissonância cognitiva” e “analfabetismo funcional” podem parecer semelhantes, especialmente quando usados em contextos de discussão sobre comportamento humano, política ou educação. Contudo, tratam-se de conceitos muito distintos, que descrevem fenômenos psicológicos e sociais diferentes. Entender essa diferença é fundamental para que possamos fazer análises mais precisas sobre as reações das pessoas diante de informações, mudanças ou conflitos.

O que é Dissonância Cognitiva?

O que é Dissonância Cognitiva?

De acordo com o psicólogo Leon Festinger, que desenvolveu a teoria em 1957, dissonância cognitiva é o profundo desconforto mental causado pela contradição entre duas crenças, ideias ou valores que uma pessoa possui simultaneamente. Por exemplo, se alguém acredita que fumar é prejudicial à saúde, mas continua fumando, essa pessoa provavelmente experimentará um incômodo interno que a levará a tentar justificar sua ação de alguma forma (“vou parar em breve”, “meu avô fumou e viveu até os 90 anos”).

O que é Analfabetismo Funcional?

O que é Analfabetismo Funcional?

Agora, diferentemente da dissonância, o analfabetismo funcional é uma condição ligada à capacidade de interpretação. A pessoa sabe ler e escrever, mas não consegue compreender plenamente o sentido de um texto. Ela decodifica as palavras, mas tem grande dificuldade para interpretar argumentos, fazer inferências ou aplicar o que leu em situações práticas. Segundo o Indicador de Analfabetismo Funcional (INAF), divulgado em 2024, a taxa no Brasil é de 29% para a população entre 15 e 64 anos.

Diferenças Fundamentais

Bem como acontece em outras áreas, é comum confundir os termos. A diferença essencial é:

  • A dissonância cognitiva ocorre em pessoas que têm compreensão das ideias, mas vivem um conflito interno por elas serem contraditórias.
  • O analfabetismo funcional está ligado à incapacidade de interpretar corretamente a informação, o que dificulta a própria percepção de que existe um conflito de ideias.

De maneira idêntica ao modo como confundimos ansiedade com stress, também confundimos frequentemente essas condições cognitivas por falta de compreensão técnica. E isso tem conseqüências.

Efeitos no Cotidiano e na Sociedade

Efeitos no Cotidiano e na Sociedade

Atualmente, estamos cercados por informação. Agora, mais do que nunca, saber interpretá-la é essencial. O analfabeto funcional pode ser manipulado com mais facilidade por fake news ou argumentos falaciosos, pois tem dificuldade para identificar contradições e compreender contextos.

Por outro lado, uma pessoa em dissonância cognitiva pode perceber os erros em sua lógica, mas ainda assim escolher ignorá-los, para manter-se coerente com sua visão de mundo. É aquela situação clássica: o indivíduo que acredita em dados científicos, mas recusa o uso de vacinas por razões emocionais. Conforme explicam Elliot Aronson e Carol Tavris em “Mistakes Were Made (But Not by Me)”, esse autoengano protege o ego do desconforto de admitir um erro.

Por Que Importa Entender a Diferença?

Compreender essa distinção não é apenas uma questão semântica. É um passo crucial para desenvolvermos empatia e estratégias de comunicação mais eficazes. Por exemplo, debater com alguém em dissonância cognitiva pode exigir uma abordagem que apele à experiência prática e não apenas a dados frios. Já para o analfabetismo funcional, a solução primária é o investimento em educação básica de qualidade e em formas acessíveis de transmitir informação.

Conclusão

Logo, podemos dizer que entender a diferença entre dissonância cognitiva e analfabetismo funcional é vital para não cairmos em armadilhas de interpretação. Enquanto uma revela um conflito interno, a outra evidencia um obstáculo estrutural. Definitivamente, uma sociedade que compreende essas nuances está mais preparada para dialogar e evoluir. Afinal, como diria Paulo Freire em “Pedagogia da Autonomia”: “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”.

 

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